O menino era pequeno demais para articular a pergunta, mas ela lhe passava pela cabeça. Por que seu pai o estava vestindo com aquelas roupas, as roupas dele, pai? O pai, como se conseguisse ler os pensamentos do caçula, explicou:
– É uma festinha de dia das crianças na escola, filhote. Eles acharam que seria engraçado as crianças se vestindo de adulto. Olha como você ficou lindo com a camisa e a gravata do pai.
O menino, que não tinha largado as fraldas há muito tempo, sentia as da camisa do pai entrando pelas suas calças. Não incomodavam. Ele estava acostumado com fraldas.
– Agora o último detalhe: a boina. Boina de artista, de pintor francês.
Vestido num misto de pai e de artista, o menino foi para a escola. Sentia-se exatamente isso: um misto de pai, do seu pai, e de artista. Sentia-se um pouco estranho, mas muito bem. O menino jamais esqueceria aquele dia. Lembrado ainda hoje, mais de 40 anos depois, quando o menino é mais velho que o pai.